Sou um ser histórico, pêndulo entre os acontecimentos.
Quando me perco, logo me reencontro, me levanto, me reinvento.
Algumas vezes, sou impreciso, dividido, contraditório, indeciso
mas prossigo, porque tento ir pelo caminho do possível.
Não me perderei da razão, do coração
do pacto e do compromisso com a minha história
de estar junto, entre, presente
de ser elo, diálogo, solução.
Os versos acima, trechos do poema "A luta continua", de Dilan Camargo, retratam a história do MDB. De um partido que nasceu, cresceu e vive por uma causa. Como dizia o nosso saudoso líder Ibsen Pinheiro, “o MDB tem a face diversificada, assim como o próprio Brasil. Nosso maior defeito é também a nossa principal virtude, um partido grande, amplo e heterogêneo, como é a sociedade”.
Assim é esse partido. Plural e incomparável. Mas que se torna forte por suas convicções, ideais e pontos de convergência. Características essas que lhe tornam aglutinador de forças, equilíbrio e caminho de construção.
Mas como o MDB chegou até aqui? Como a sua trajetória se confunde com a história do país? Como forjou os seus grandes líderes e contribuiu para as grandes reformas do Brasil? Como segue tão atual?
A resposta é simples:
Por isso, neste aniversário, compartilhamos a história de Neusa Maria dos Santos Rodrigues, uma “gaúcha bem brasileira”, como ela gosta de dizer.
Nascida no dia e ano de fundação do MDB, 24 de março de 1966, ela também completa 55 anos de vida. Vida essa que se confunde com a história da sua legenda do coração: o 15.
Aguerrida e determinada, Neusa é mulher, filha, mãe, irmã, amiga, profissional, militante, dirigente, voluntária e tantos papeis quanto a vida lhe requisitar. Mas acima de tudo é gente. Gente de carne e osso. Gente como a gente, que vai à luta em busca do seu espaço, da sua voz e dos seus ideais.
E é de pessoas como Neusa que é feito o nosso partido. De militantes apaixonados que seguem o seu ideário de justiça social e não perdem a esperança em um futuro melhor.
O MDB vai além dos seus grandes líderes. É feito por muitas cabeças e mãos. Por pessoas, que apesar de diferentes, têm em comum a vontade de construir municípios, estados e uma nação com oportunidades iguais para todos.
O MDB não é algo estático ou inacessível, ele é parte da sociedade. Como diz o poema de Dilan Camargo: “estar junto, entre, presente, elo, diálogo, solução”. E o caminho só se descobre andando, “pensando fora da caixa”, observando, saindo da nossa “bolha”.
E desse termômetro social quem cuida é a nossa militância, os nossos 260 mil filiados no Rio Grande do Sul. Pessoas como a Neusa, que hoje nos ajuda a escrever mais uma página da nossa história: os 55 anos.
Neusa é natural de Canguçu, município localizado na Zona Sul, distante 275 quilômetros de Porto Alegre. Filha do casal de agricultores Almo Dias dos Santos (em memória) e Arzelina Dias (91 anos), se criou no interior na companhia de sete irmãos. Dos tempos de infância, o que recorda com mais carinho é da vida simples e alegre que compartilhava com sua família no campo.
Ela se casou aos 18 anos com Otávio Luiz Alves Rodrigues e foi morar em Jaguarão, cidade vizinha de sua terra natal. A novidade da vida de casada se dividiu com a de estudante. Desde sempre muito comunicativa e já com espírito político aflorado, queria atuar em uma área que pudesse ajudar outras pessoas. O curso escolhido foi o de Técnico em Enfermagem, que frequentou na Escola Dimensão, em Pelotas.
Após formada e já de volta à sua cidade foi trabalhar no Hospital de Caridade de Canguçu , e mais tarde, em uma Unidade Básica do município. Nos últimos quatro anos foi responsável pelo setor de Patrimônio da Prefeitura de Canguçu, na gestão de Vinícius Pegoraro (MDB). Atualmente divide o seu tempo entre atividades voluntárias e a atribuição de presidente do MDB Mulher local, que cumpre por duas gestões consecutivas. Também se prepara para voltar em breve às suas funções profissionais.
E como toda pessoa de carne e osso, ela também enfrentou altos e baixos em sua trajetória. Perdeu um dos irmãos ainda na infância e, em 2001, após um trágico acidente, perdeu também o esposo. Viúva, precisou buscar energia para superar o luto e seguir em frente. A força encontrou nas filhas Michele e Miquelen. As meninas, hoje respectivamente com 34 e 23 anos, são o seu ideal de felicidade. A família, nos últimos anos, ainda ganhou três novos membros: os netos João Victor e Vicente, filhos de Michele; e um novo amor, o seu companheiro Bruno Ropke Bartz.
Hoje, aos 55 anos, ela tem no rosto estampada a alegria e os ensinamentos que a vida lhe deu. Neusa é gente que tem fé e confiança no futuro. Acredita que todos temos compromisso com o coletivo. Para ela, a liberdade é uma dádiva e a solidariedade um bem que deve ser exercido plenamente.
Por que militar no MDB? Ao ser questionada sobre a escolha do seu partido, Neusa não titubeia em responder: “minha ligação com o partido vem de berço”. No caso dela, não se trata apenas de uma frase popular. É de berço mesmo. É 15 desde o nascimento: 24 de março de 1966.
A coincidência da data há pouco era desconhecida por Neusa, mas ao descobrir, ela afirmou que teve respostas para a paixão incondicional. “Agora sei porque esse é o partido do meu coração”, exclama emocionada.
Emocionada porque esse amor transcende o dia de nascimento. É devoção por um amor ainda maior: o pai, seu Almo, falecido em 2002. Seu Alminho, como era conhecido no Distrito do Passo do Valadão, foi um dos fundadores do MDB de Canguçu. Sua principal responsabilidade era criar núcleos do partido pelo interior da cidade.
Neusa conta que o pai era militante fanático. Se alguém queria provocá-lo, era só falar mal do seu partido, o mesmo pelo qual viveu e construiu o alicerce de sua família. Alicerce mesmo, no sentido literal. No ano de 1976 ele participou da campanha de arrecadação de material para a construção da sede do Diretório Municipal, até hoje em funcionamento na rua General Câmara, 1603, no Centro.
Na época – mesmo questionado pela esposa por destinar recursos para a construção da sede enquanto a família morava em um rancho de chão batido no interior –, Almo não desistiu. Para ele, levantar aquele sonho significava materializar uma causa. E foi o que fez. Manteve as suas convicções e também o seu trabalho como plantador de ervilhas. Resultado: a sede foi concluída, a família prosperou e ele construiu para a esposa a casa que ela tanto queria, de tijolos e cimento. Uma casa sólida, assim como o seu amor pelo MDB.
Para medir essa paixão dele pela legenda vale fazer um comparativo com o futebol. Torcedor inveterado do Internacional de Porto Alegre, time que fazia acelerar o coração, seu Almo não chegou a “exigir” dos filhos a mesma devoção pelo time. Mas não se pode dizer o mesmo sobre a militância. Num certo Dia dos Pais, ele reuniu os filhos e fez um pedido especial: “Vocês podem trocar de time de futebol, mas nunca de partido”. E para os filhos que cresceram vivenciando a atmosfera política e participando de comícios do MDB, esse não foi um pedido difícil de atender.
Resultado: os sete filhos de seu Almo e sua amada esposa são filiados ao MDB e fazem parte desta grande família emedebista Rio Grande do Sul afora. “Desde então seguimos firmes, nas derrotas e nas alegrias, sempre votando e trabalhando pelo MDB”, conta Neusa.
Os tempos obscuros, violentos e incertos da Ditadura Militar não fazem parte da memória recente de Neusa, que nasceu junto com a luta pela redemocratização. Mas as campanhas pelo Fim da Tortura, Anistia, Diretas Já, Liberdade de Imprensa e Assembleia Nacional Constituinte permanecem em seu subconsciente, pois apesar de ainda não compreender toda essa movimentação enquanto criança, vivenciou a luta por liberdade através da família e dos amigos mais próximos que militaram pela causa.
"Não tenho lembrança nítida do que se tratava, mas me recordo das pessoas fazendo cartazes, faixas e a gente, ainda criança, indo para os comícios com os nossos pais. Para as crianças era uma festa," recorda.
Hoje, aos 55 anos – consciente de suas convicções –, é grata aos emedebistas pioneiros que foram para o “front de batalha” e garantiram os direitos constitucionais que são realidade no Brasil de agora. “Lá atrás o MDB conquistou o direito ao voto, a redemocratização e isso abriu caminho para todas as outras conquistas que vieram depois e as que virão. Essa luta foi o que aproximou o partido das pessoas”, enfatiza.
Mesmo com todo o amor e militância, Neusa não fecha os olhos para os erros do partido. Como uma mãe que corrige um filho, se entristece, se decepciona, contesta e orienta para retrilhar o caminho, recalcular a rota. “Muitas vezes me chateei com pessoas e situações. Por vezes cheguei a pensar em abandonar tudo e me afastar. Mas logo passava aquela sensação. Eu refletia, buscava os pontos de convergência e voltava à ativa com a mesma disposição. Sou MDB nas lutas, decepções e alegrias”, reconhece. Mais uma vez, em referência ao poema de Dilan Camargo, Neusa se levanta, se reinventa. É uma história cruzada.
Por herança do pai, desde muito cedo Neusa se envolveu com temas sociais. Mas para ela ainda é difícil entender o motivo pelo qual a participação das mulheres na política é tão tímida. “Se somos maioria do eleitorado, por que ainda não conquistamos o espaço proporcional?”, questiona ela, que já concorreu duas vezes a uma vaga na Câmara de Vereadores de Canguçu.
“Eu sou um pouco ‘termômetro’ do partido. Gosto de falar com as pessoas, de saber o que elas sentem e o que esperam. E eu sempre ouvi mulheres dizendo que precisam de mais representantes femininas nos espaços de poder, por outro lado, há um certo machismo entre nós. As mulheres ainda não votam em mulheres”, constata.
Como presidente do MDB Mulher de sua cidade, ela conta que a busca por este espaço é um trabalho de formiguinha, calcado diariamente com muito diálogo e construção. “A gente faz campanha de filiação, conversa com as companheiras, gasta sola de sapatos se for preciso, pois se não for assim, não mudaremos a realidade”, garante.
Apesar de considerar os índices de participação feminina na política ainda baixos, Neusa é otimista e acredita que o caminho é promissor. Para ela, o divisor de águas foi a aprovação da Lei 12.034/2009, que determina a proporcionalidade de gênero, fixando o mínimo de 30% de participação de pelo menos um dos gêneros na composição das nominatas para a disputa proporcional. “Quando veio a lei dos 30% bati palmas, gritei muito, comemorei, pois foi uma conquista. É uma questão de igualdade de oportunidade”, avalia.
E para um partido que levantou as bandeiras femininas desde a sua formação – com o MDB Mulher oficializado em 12 de agosto de 1969 –, essa realmente foi uma conquista. Em 2018, por exemplo, as mulheres (entre todos os partidos) obtiveram 77 vagas na Câmara dos Deputados, um aumento de 6% num comparativo com as eleições de 2014.
No âmbito do MDB-RS, também é expressivo os resultados atingidos a cada novo pleito. Comparando as três últimas eleições municipais, a sigla registrou crescimento de 41% em sua representação nas Câmaras de Vereadores e, em 2020, elegeu o maior número de prefeitas (9) e vices (12) entre as legendas políticas do RS. Além disso, nesta legislatura, em 29 cidades gaúchas, as bancadas do MDB no Legislativo são formadas exclusivamente por mulheres.
Neusa comemora estes dados e convoca as correligionárias: “sejamos persistentes. Vamos seguir nossa luta com garra e coragem. Lugar de mulher é na política, sim”.
NOSSA LUTA
“A luta continua”. Esse slogan usado pelo MDB inspirado pelo seu grande líder Ulysses Guimarães foi determinante para marcar diferentes fases da batalha pela redemocratização, como por exemplo, após a derrota da campanha das Diretas Já e, imediatamente, a formação do Colégio Eleitoral que escolheu Tancredo Neves para a presidência da República, fechando um ciclo de 21 anos do Regime Militar.
A trajetória e determinação de Ulysses Guimarães segue inspirando gerações de líderes e militantes do MDB ao longo dos tempos. Neusa, nossa personagem dos 55 anos, acredita que a luta continua e deve continuar. “Entendo que o partido tem muita coisa boa para oferecer para o nosso Brasil e o nosso Rio Grande”, enfatiza.
Ela cita o exemplo de sua própria cidade, Canguçu, que depois de décadas sem um governante da legenda, elegeu o jovem Vinícius Pegoraro para prefeito nas eleições de 2016, que foi reeleito em 2020. “O resultado das eleições mostrou a nossa evolução, onde tivemos governantes reconhecidos em todo o território gaúcho. E em Ganguçu não foi diferente. Eu costumava dizer que Canguçu era um pão sem fermento e com o MDB no governo o nosso pão voltou a crescer”, pondera Neusa.
Em 2020, dos 77 prefeitos emedebistas que concorreram à reeleição, 64 foram vitoriosos, registrando um aproveitamento de 83% destas candidaturas.
Técnica de enfermagem por formação, Neusa sofre diariamente com as notícias cada vez mais alarmantes sobre a pandemia de Covid-19. Apesar de não estar atualmente na linha de frente, acompanha a batalha dos colegas, que se revezam em plantões intermináveis e se tornam impotentes diante de tanto desespero. Para ela, a postura do Governo Federal em relação à doença foi determinante para a situação de agravamento da crise pela qual o Brasil atravessa hoje.
De forma geral, Neusa defende que os governos, em todas as instâncias, estejam atentos às necessidades da saúde. “Temos que estar alertas à Covid e às suas variantes. É primordial um conjunto de forças. Profissionais, leitos, equipamentos e vacina. Rogo ao meu partido, onde quer que ele esteja atuando, que tenha essa prioridade”, sugere. Porém o trabalho dos governantes não isenta a população para que faça a sua parte na superação da pandemia: “sem isolamento social e os cuidados com a higiene, o caminho ficará mais distante”.
Para Neusa, o MDB tem em sua essência a referência de gestores sérios e competentes. Ela reforça que além do resultado da atuação nos municípios, a mesma dedicação se viu nas administrações estaduais do partido, que teve como governadores Pedro Simon (1987-1990), Antônio Britto (1995-1998), Germano Rigotto (2003-2006) e José Ivo Sartori (2015-2018).
Neusa acredita que com o trabalho de base, a busca pela pluralidade de representação e o diálogo permanente com as pessoas, o MDB alçará voos ainda mais altos e continuará deixando a sua marca na história do Rio Grande e do Brasil.
“Eu tenho dois netos, João Victor e Vicente. Penso no futuro deles. Então como partidária, tenho o compromisso de acreditar e trabalhar para garantir um futuro brilhante para os nossos jovens”, conclui a nossa personagem que marca a passagem dos 55 anos do MDB.
A luta continua.